Descomplicando a gestão financeira no Terceiro Setor

OSC Legal Instituto
3 min readApr 19, 2022

Por Luciana Mikami

Ao longo dos meus 20 anos de atuação na área financeira, as maiores reclamações que ouvi dos outros departamentos eram: “é muito burocrático; é muito chato; é muito difícil de entender; eu estudei humanas porque não quero lidar com números”. Se identificaram?

Mas, já pararam para pensar que por mais que tentemos fugir dos números, são eles que norteiam a nossa análise cotidiana sobre se as coisas estão funcionando bem?

Imaginem-se dirigindo um carro. Em seu painel constam várias informações sobre um eventual problema elétrico ou mecânico, sua velocidade, seu nível de combustível e outros alertas específicos que te auxiliam a entender como está o desempenho e até onde você pode chegar. A gestão financeira tem o mesmo objetivo. Ela oferece informações sobre performance e resultados gerados, além de permitir uma visão ampla e estratégica de como a organização pode se comportar no futuro. Já pensou em viajar num carro sem painel de controle? Seria um salto no escuro! O paralelo é verdadeiro quando pensamos em organizações sem o mínimo de controle financeiro - certamente haverá um grande desafio para a tomada de decisões assertivas.

Vale ressaltar que a gestão financeira não é uma ação pontual ou isolada, conduzida de longe ou que visa apenas a finalização das prestações de contas. Ela precisa estar presente do início ao fim dos processos organizacionais, integrada a todos os departamentos, de forma a melhorar o desempenho institucional e programático no momento presente, à medida que contribui com importantes elementos para a tomada de decisão, e no futuro, ao garantir o planejamento adequado e, se necessário propor soluções. A gestão financeira é, portanto, uma grande aliada no cumprimento da missão social e da perenidade das organizações.

Abaixo quatro aprendizados simples utilizados pelas principais Organizações do Terceiro Setor no Brasil:

  1. Planeje e compreenda os objetivos - As entidades sem fins lucrativos que se destacam têm clareza sobre seus objetivos, incluem o público-alvo no planejamento estratégico e estão sempre aprimorando seus processos, políticas e procedimentos. A gestão dos recursos se torna mais assertiva quando se sabe com clareza aonde se quer chegar;
  2. Diversifique as fontes de captação e doadores regulares - As organizações investem em bons planos de captação de recursos como uma forma de garantir a sustentabilidade da organização. Uma gestão de fluxo de caixa e uma estratégia de investimento dos recursos captados bem desenhadas podem potencializar o recurso captado.
  3. Priorize transparência e comunicação - A divulgação dos relatórios e demonstrações financeiras, assim como a realização de auditorias regulares, aumentam a confiança dos stakeholders¹ - quanto maior o grau de confiança inspirado por uma organização, maiores as chances de seu desafio de captação de recursos ser atingido;
  4. Esteja aberto a mudanças, adaptações e contínuo aprendizado - Nem tudo é previsível. Nos últimos meses, por causa da pandemia, os recursos disponibilizados às organizações diminuíram e a demanda da sociedade pelos serviços prestados aumentaram nas organizações do terceiro setor. As instituições devem aprender rapidamente a lidar com novos cenários e se adaptarem.

A gestão financeira organiza e otimiza os recursos disponíveis para o Terceiro Setor, além de abrir possibilidades para novos investimentos. Ainda que uma organização social não tenha fins lucrativos, ela não pode ter fins de prejuízo. Qualificar a forma como os recursos das organizações são geridos é, sem dúvida, uma das melhores estratégias para a garantia de sustentabilidade e perenidade no Terceiro Setor.

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Luciana Mikami - Graduada em Administração de Empresas, especialista em Finanças e Banking, com MBA Executiva em Gestão em Pessoas e Coach Executivo em alta performance. atua na área financeira, contábil e administrativa há 20 anos e desde 2009 dedica sua experiência profissional ao Terceiro Setor. É coordenadora administrativo-financeira no GIFE.

  1. Stakeholders - é um termo da língua inglesa definido como “grupo de interesse” ou “parte interessada”. É a união das palavras “stake” (participação) e “holder” (detentor). Para definição completa acesse: https://www.dicionariofinanceiro.com/stakeholders

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